Quinta-feira, 4 de Novembro de 2010

Indeed!...Uma visão alternativa ao Lonely Planet e em português!

“Tel Aviv ranked world's 3rd hottest city for 2011”

in Jerusalem Post 2.11.2010

 “Forget the strife, Lonely Planet puts Tel Aviv in top three cities in world”

In Haaretz 2.11.2010  

 

 

 

copyright ©2010 Cristina Vogt-da Silva

 

 

 

 

Indeed!...Uma visão alternativa ao Lonely Planet e em português!

 

 4 de Novembro, 31 graus à sombra, felizmente, com apenas 19% de humidade, uma excepção em TA.Talvez por esta razão, o Lonely Planet tenha dado um honroso 3º lugar à cidade de Telavive, na sua escolha de cidades com maior apetência em todo o mundo, "3rd hottest city 2011, in the world"!  Ou será porque é a única cidade com cultura gay em Israel? Ou, e cito novamente aquele guia, “the city with more bars than sinagogues in Israel “…and the city of Body Culture”...

Mas que critérios são estes para definir a apetência de uma cidade em termos de turismo? Tenho a certeza que todos nós goyim (1) poderíamos fazer uma lista de pelo menos 10 cidades mais “atraentes” no resto do mundo!

 

O que poderá oferecer TA aos turistas goyim do Norte?

Sofre-se um verão infindável que, para aqueles que já tiritam de frio na Europa, lhes parece um sonho paradisíaco, mas para os que passaram um verão quente e húmido, sem perspectiva de Outono, lhes cria aversão, que não se deixa mitigar pelo mal dos outros, ou seja: o seu tiritar friorento.

 

31 graus à sombra: Evidentemente, os níveis do ozono, hoje, devem ser daqueles de ficar em casa de janelas fechadas o dia inteiro; parece não haver estatísticas oficiais, pelo menos nos jornais escritos em inglês. Meço a qualidade do ar pela tosse cavernosa do meu filho e pela intensidade do torniquete que me aperta a garganta. E, assim, os ingénuos turistas do Norte, com sonhos de Copa-Cabana, chegam e passam, alegremente, os dias incógnitos por detrás dos seus óculos escuros e a trabalhar para o bronze, sob os raios ultravioletas, embora se veja logo que alguns nunca conseguirão ir para além daquele vermelho do tomate maduro, e a respirar o ar poluído da 3ª cidade mais “hot” do Mundo, segundo o famoso guia, estendidos languidamente nas toalhas com o monograma dos hotéis costeiros e admirando este mar muito azul; o pano de fundo, à esquerda, é Jaffa, Ajami, palco do conflito iraelo-palestiniano ou da especulação imobiliária, ou vítima de ambos, ainda não me decidi, e que fica próximo das praias, mas bem separado delas; vê-se ao longe na névoa de calor, o seu atraente promontório, engalanado pelos minaretes das mesquitas e as torres das igrejas, perfilados num céu muito azul, o todo anunciando, aos turistas que não engolem a história oficial, a antiga cidade árabe.

 

 

copyright © 2010 cristina vogt-da silva

 

Os veraneantes que ficam nos hotéis costeiros, virados para a praia de areias douradas e para o mediterrâneo azul de sonho, irão flainar para o passeio marítimo e, de quando em vez, aspirar o ar de urinol, não só testemunho dos mendigos de todo o mundo como também daqueles cuja preguiça ou urgência não lhes permite fazer um pequeníssimo desvio aos WCs de um dos muitos cafés e suas esplanadas que assinalam as várias praias: a dos Ortodoxos, a dos Cãezinhos, a dos Gays, a de Jerusalém, numa rapsódia de tolerâncias. E, de nariz no ar, tentando aspirar a maresia que, enfim, por aqui não há – este mar, não é o Atlântico, farão, num reflexo de último minuto, um salto salvador rasando os vários torcidinhos da cor das nossas outonais castanhas. Os visitantes nortenhos poderão passear por algumas das ruas nas traseiras dos hotéis e penetrar a cidade que corre em ruas paralelas ao mar e que parecem fugir de Jaffa em direcção à TA mais moderna, a Norte. O trânsito intenso e desordenado é caracterizado por uma concorrência feroz ao primeiro lugar do concurso oficioso de má-condução e má-educação telavivenses. Os incautos turistas atravessarão umas zebras com perigo de vida e penetrarão numa Rehov Ben-Yehuda, de passeios escuros e sujos, e um cheiro universal de enxofre típico das artérias poluídas. Na 2ª rua paralela à linha dos grandes hotéis costeiros, descerão pela Sderot Ben-Gurion, tentando não ser atropelados pelos ciclistas. Nesta cidade as ciclovias são frequentadas por peões, que se recusam a conceder o seu monopólio aos afficionados das bicicletas, e o balagan  (3) é total e, por vezes, até divertido; os velhinhos auxiliados pelos empregados filipinos, vão dando passinhos ainda mais curtos e indecisos do que o habitual,o pânico espelhado nos olhos cansados de imagens, e o medo daqueles pneus perfilados das bicicletas de montanha tão populares nesta cidade. Estes velhinhos enrugados pelo passado e fixados nele, continuam a sofrer às mãos de uma sociedade que não lhes reconhece nem a sabedoria nem o sacrifício, e os alimenta a conta-gotas, o que não é diferente no resto do nosso mundo global, e são guiados pela mão suave dos filipinos que com a outra mão livre seguram o telemóvel e falam alto num dos muitos dialectos das Filipinas. Cada um fechado no seu mundo autista, todos protegidos pelas sombras daquelas árvores frondosas que ladeiam a zona pedestre no centro da avenida.

 

Depois da corrida de obstáculos, acalorados e sedentos, sentar-se-ão os visitantes de TA, numa das muitas esplanadas da Rehov Dizengof, e virados para o acontecimento, ou seja o trânsito, verão passar os autocarros fedorentos, e os táxis amarelos, reminiscência de Nova Iorque, e talvez por isso tenha Nova Iorque o honroso primeiro lugar no dito guia, afinal o que liga estas cidades será, sem dúvida, os seus táxis amarelos, para além da diáspora americana lá e cá! Nem vale a pena fumar cigarros na esplanada, porque seria agravar a situação de inalação de fumos tóxicos, aliás fumar é, em geral, proibido nos restaurantes, cafés e respectivas esplanadas. Uma medida muito positiva e civilizada no meio deste hedonismo da mais livre cidade do oriente.

 

Indiferentes a tudo isto, os Joggers  correm, suando e evidenciando os seus músculos peitorais bem trabalhados, mulheres jovens e maduras passeiam chinelando em maneios de dança que poderia ser oriental, a arritmia fazendo subir as somíticas T-shirts e escorregar os Tops ambiciosos, desnudando muitas vezes umas menos estéticas barrigas que não fazem justiça ao Body Culture de TA, outras deslizam em passo apressado e cadenciado e traje clássico. A cultura do corpo, Body Culture, tão prezada pelo conhecido guia turístico, parece muitas vezes um insulto à estética mais básica e, senão mesmo, à decência. Mas, em democracia, somos todos livres de usar o que queremos e, sem dúvida que, Telavive é uma cidade aberta ao mundo, senão árabe pelo menos, judeu e goyim. Mas digamos que, neste aspecto, existe pouca autocensura.

 

De resto, há sítios muito piores; que o digam os Expats (2) em passeio global pelo mundo! Em TA um estrangeiro não se perde, pq os seus habitantes falam bastante o inglês, e tb. o francês, o alemão (menos atraente por razões históricas que todos conhecemos), o russo, um hebraico nem sempre correcto, acentuado por uma miríade de lugares e de origens diferentes, porque muitos dos seus habitantes são imigrantes da diáspora. Apenas, os cidadãos árabes, falam menos o inglês. Mas quem vem a TA atraído pelas características indicadas no guia em questão, não irá, certamente, visitar zonas árabes, e ficar-se-á pelos bares, discotecas, cafés, restaurantes e galerias, shopping-centres, que são muitos e mais do que as sinagogas e, sobretudo, deverá evitar o verão.

 

 

 

copyright © 2010 cristina vogt-da silva

 

 

Quem vem a TA, vem pelo seu hedonismo, ou de passagem para outros lugares da Terra Santa e, mesmo, para o futuro estado da Palestina - já perceberam que sou optimista! A história antiga da cidade é para uns amnésia assombrada pela memória dos que recordam as suas dunas e laranjais, as suas aldeias de casario de pedra variando os seus tons ocres numa conversa amena com o sol, os seus cemitérios e mesquitas abandonados, os seus pântanos secados: porque TA tem apenas 100 anos de idade. A cidade é, em geral, muito segura, desde que não haja atentados bombistas pelos que se recusam a perder a memória. Para aqueles que insistem em ser espirituais, aconselho visitar Jerusalém e Tsafat...para os apaixonados por história, não esquecer a cidade de Akko e, para os que procuram encontrar simbioses perfeitas e uma solidão bendita ...e ar puro, recomendo o deserto e a imensidão dos seus wadis (4).

 

E, para terminar, um desafio: façam uma lista de 10 cidades que poderiam estar entre as Top 10 no mundo, para enviarmos ao Lonely Planet! lol

 

(1) Goyim – não judeus na terminologia judaica

(2) Expats – são estrangeiros que, por razões profissionais, vivem temporariamente, em países estrangeiros.

(3) Balagan – confusão

(4) Wadis – vales do deserto

 

Copyright © Nov 2010, Cristina Vogt-da Silva

 

 

copyright © 2010 cristina vogt-da silva

 

 

publicado por Cristina Dangerfield - Jornalista às 14:27
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