Segunda-feira, 13 de Dezembro de 2010

O Messias de Telavive e outras estórias

 

 

 copyright © 2010 cristina vogt-da silva - MESSIAS DO CARMEL, TA

 

De Telavive, em Novembro de 2010 

 

Durante as últimas férias na Turquia, alguém me perguntou se já tinha começado a “gobek atmak”, literalmente atirar a barriga, mas o contexto era “se tinha começado a dança do ventre ou oriental”. Na Turquia apenas tinha visto as cidadãs russas dançarem em cima das mesas rodeadas de homens, exalando bafo de Rakı, de mãos estendidas e dedos trémulos tentando meter notas no top ou na cintura descaída daqueles tules sensuais abrilhantados das bailarinas que se aproximavam ou afastavam deles em movimentos eróticos e fiquei indecisa entre o ofendida e o divertida. Mas, parece ser, uma pergunta geral que alguns fazem aos Expats que vão viver para o Médio Oriente... partindo do princípio que é para isso que nós mulheres vamos para o Oriente fascinadas pelos contos da Sherezade e pela literatura do século XIX que nos faz sonhar com um Oriente Médio romântico e lúdico, impenetrável e misterioso dos contos imaginados por aqueles que nos moldam os sentimentos. Embora, esta visão seja destruída pelos jornais diários e pela TV que nos penetram o casulo romântico e nos apresentam o Médio Oriente como um matadouro sem tréguas. Mas fica sempre um pouco a vontade de acreditar que possa ser de outra maneira, que, afinal, os omnipresentes Media, que nos invadem a casa e formam as mentes sem quase nos apercebermos, tenham errado, ou não nos relatem toda a realidade e que, para além dos conflitos, dos suicidas, do sofrimento, haja uma outra dimensão desconhecida da sociedade oriental, desligada do fanatismo fundamentalista e da opressão do nosso género.

  

Como a nossa estadia em TA se aproxima do seu término, achei que era altura de investigar o que poderia haver por aqui nessa direcção, apesar de o orientalismo estar ausente da vida pública da cidade.

  

Comecei a minha investigação na Internet possuída de uma descrença quase absoluta nas imagens hollywoodescas dos haréns, odaliscas, eunucos e sultões libidinosos. Em TA há várias escolas de dança oriental: a raks sharki egípcia, a indiana, etc. – sim, o que se vê nos filmes de Bollywood, é muitas vezes dança do ventre e, para além das diferenças regionais, há ainda uma variedade de danças do ventre na mesma região, incluindo um conjunto de movimentos de dança que é basicamente uma preparação para o parto já milenária...A dança do ventre, o que é uma designação europeia, ou melhor as danças orientais, não são exclusivamente danças para agradar aos sultões ou animar os bares de má-fama. Poder-se-ia dizer que foram o primeiro “fitness” da história para mulheres, que dançavam entre si, enquanto se riam das “proezas” dos seus machos viris que, à primeira vista, dominavam, ou dominam a sociedade.

 

O engraçado é que há mais escolas de dança do ventre nos EUA e na Europa do que nas suas regiões de origem e, também, em Telavive, a cidade mais ocidental do Médio Oriente!

 

A escola que mais me agradou foi uma perto do Shuk ha Carmel, a feira que já conhecerão do meu livro “Um Ano em Telavive”, o que é um bom pretexto para partir novamente à aventura por esta surpreendente cidade.

  

Subo para um autocarro e sou imediatamente projectada em vôo para a retaguarda do mesmo pelo arranque de rali do condutor, inspirando involuntariamente aquele ar de enxofre, enquanto sou atirada para um dos muitos lugares livres. Já sentada preparo-me para ouvir o meu curso de árabe quando me vejo apontada uma Uzi! O banco traseiro do autocarro estava ocupado por um bonito soldado Mizrahri, que abanava a cabeça, encimada por óculos escuros de aros brancos da Ray Ban, ao som dos solavancos e do ritmo do seu I-Pod. A Uzi parecia também dançar descontroladamente, embora segura por duas mãos elegantemente firmes. Um pé no banco e outro no chão, bem fincados pelas botas, que lhe restabelecem o equilíbrio. Confesso, que me senti desconfortável durante toda a curta viagem! Mas quem gosta de ter uma metralhadora apontada num autocarro basculante?

  

Desço no cruzamento da Allenby com a Sheinkin, passo pelo Messias, que está sentado todos os dias na praça à entrada da Feira. Sim, o Messias, um jovem que se considera o Messias, cujos discípulos, eles e elas, o acompanham todo o dia, sentados do seu lado esquerdo e direito, reagindo-lhe às expressões faciais, gestos, desejos. Mas é um Messias, moderno e com site na internet, que não perde as refeições que lhe trazem os fãs, se zanga com os curiosos, e vocifera quando se chateia com as perguntas parvas que lhe fazem. Pano de fundo é o que ele descreve como o seu camelo, uma mota coberta por um lençol branco. Um grupo de Ortodoxos com as suas franjas e chapelitos de croché montaram banca a um metro de distância e fazem-lhe concorrência com música sagrada que flui dos altifalantes de uma carrinha psicadélica e, sem dúvida, recuperada da sucata, abanando as barbas e as patilhas longas nas suas danças religiosas saltitantes, extáticos perante “Eloim”. Sobre a banca, colocaram livros sobre A Luz e o Messias que está para vir em hebraico e em inglês. Obviamente, não acreditam naquele Messias mesmo ali ao lado (sempre se disse que os santos de casa não fazem milagres) e que nos olha a todos com o ar enjoado do costume.

  

Entretanto, aparece a polícia, e os curiosos aumentam em número e interesse, gerando uma discussão acesa sobre direitos de venda, de pregação, em que cada cabeça diz de sua sentença, desenrolando a sua vida e experiência pessoais em público, o que acaba por exasperar os polícias que dispersam enquanto as conversas se exaltam.

  

A caminho da escola de dança, quase tropeço no pescador do Carmel. Que hoje, e como todos os dias, e apesar de uns 30 graus à sombra, está sentado num pequeno banco transportável, vestido de samarra preta, chapéu de pelo russo com a insígnia dourada da desaparecida URSS, calçado com umas botas pretas de feltro até aos joelhos; as mãos enluvadas seguram uma cana de pesca improvisada cujo fio desce pela grelha de escoamento de águas enquanto ele trauteia uma canção em russo. Provavelmente é um encantador de peixes de esgoto ou o Messias do Shin Beit disfarçado para nos salvar a todos.

  

À esquina um ortodoxo reza em movimentos de pêndulo e, como que por milagre, a caixinha negra com orações que lhe adorna a testa, acompanha os movimentos desafiando a gravidade. Uma tira de pele preta enrolada no sentido ascendente, dá 7 voltas em várias sucessões cabalísticas; os ombros cobertos por um xaile de oração branco debruado com duas riscas pretas paralelas e dobrado de forma tradicional completam o todo, inesperado, à entrada da Rua Schenkin, onde se sucedem as boutiques e os cafés “in” de Telavive, passando os telavivenses indiferentes e distanciados de tanta devoção.

 

Não resisto ao “é pró menino e prá menina”, ou algo de parecido – o pregão do vendedor do quiosque dos sumos naturais, o rei da fruta, coroado com um kipa preta, que debruçado sobre o escaparate de braços abertos e estendidos convida a entrar e a provar do seu reino de bananas verdes e romãs escarlates, salpicado por maçãs polidas e dois mirrados ananás, uns dióspiros, umas anonas iguaizinhas que poderiam ser clonadas, e algumas cenouras para quebrar a monotonia, dispostos artisticamente estilo baralho de cartas e aponta, em gesto convidativo, para a máquina que os vai triturar e transformar em sumos para todos os gostos. No balcão, equilibram-se, arrojados e em trapézio, uns copos de plástico cheios a transbordar de sementes vermelhas das romãs para comer com uma colherzinha de plástico que já tinha visto nas mãos das meninas que passavam e que lambiam os lábios satisfeitas (a palavra romã parece vir do árabe, roman). A higiene é parca, e as mesmas mãos que escolhem a fruta e que, num lance de basquet certeiro, a atiram para dentro da máquina, recebem os shekel e alguns agorot, fazem aqueles gestos típicos de indecisão entre o agarrar o escroto ou o telemóvel, e abrem a porta dos fundos para o esguicho inevitável, estendem-me, por fim, um copo cheio até acima do delicioso escarlate das romãs com um cubinhos de gelo a boiar que agarro com mãos sôfregas e bebo em goladas para refrescar a minha seca garganta – e, com ou sem germes, o sumo é deliciosamente refrescante.

 

Continuo, passando por todo um mundo de excêntricos, sem-abrigo deitados pelo chão, músicos de grandes orquestras russas que, agora sem emprego, se juntam no Carmel e que, com as pautas presas por molas da roupa coloridas, tocam os seus instrumentos com uma maestria que não se espera de músicos de rua; num cabeleireiro Rasta-Afro, jovens mulheres-soldado deixam entrançar em “dreadslocks” os longos cabelos negros, castanhos, ruivos e louros, que até então caíam numa atraente cascata, sem perder de vista as Uzis descontraidamente encostadas à cadeira de cabeleireiro; uma filipina montou na rua um mini-salão de “foot-massage” e massaja em plena rua os pés nodosos de uma senhora idosa que de olhos turvos pestaneja contra a relaxação, enquanto no banco corrido esperam sentados os clientes seguintes; os pregões dos vendedores saltam dos escaparates enleando-se no ritmo da babel de línguas característica deste país; o Carmel é ponto de encontro de todo aquele povo que normalmente não se cruza nos caminhos de Israel.

  

  

copyright © 2010 cristina vogt-da silva - na Nova Zelândia um destes senhores, com tiras de cabedal, foi tomado por terrorista e não por cabalista - alguém pensou que as tiras de cabedal eram fios de uma bomba, "they thought he was wired" - o que faz a ignorância - e assim passamos a vida com medo "do outro", de tudo o que é diferente!

 

Entre a loja de ferragens e o joalheiro, uma loja sui-géneris, a Eros Sex-Toys – Passion, com uma colecção variada e, simultaneamente, minimalista de pénis artificiais, presididos por uma miúda de cara diáfana emoldurada por caracóis castanhos, obviamente enfastiada.

  

Procuro o número da porta indicado no site da escola, mas não vejo números afixados, e pergunto numa loja com música ensurdecedora, em linguagem de surdos, onde é a Dance School X. “Ah, Beit Sefer Riqudei Beten!” e o empregado bamboleia-se para ilustrar que o que eu procuro e estica o braço em movimento de cisne para a porta ao lado, “sham!”, mas também a posso ensinar” – diz-me, com um piscar de olhos maroto. Não percebi se era, shame, pena, ou sham, ali, mas decidi-me pelo último. E lá continuou sacudindo-se e tamborilando os dedos no balcão ao som dos beats da música da loja observado criticamente pelo rabino a preto e branco que o observa severo de uma gravura pendurada na parede de fundo, enquanto eu me aproximava daquela porta “abre-te sésamo” duvidosa e me decidia empurrá-la e entrar para o desconhecido. Nada anunciava a escola para além daquelas entranhas de prédio velho e descuidado; o barulho da rua emudecia lentamente à medida que eu ascendia as escadas de pedra daquele edifício otomano e era substituído em crescendo por ritmos de quartos de tom da música oriental. Finalmente, um portão em ferro forjado anuncia a escola e várias fotos dos ícones do mundo da dança oriental acompanham a minha ascensão a um mundo mágico totalmente desligado da realidade lá fora. Avisto da entrada a caverna do Ali Babá; uma colorida e curiosa rapsódia vangoguiana, que se transforma lentamente num museu colorido por uma miríade de fatos multicolores, cintilantes, multiplicados por espelhos orquestrados por um fru fru de saias e passos, o todo envolto num bafo fumarento. Mulheres várias, em pé e sentadas conversam, bebem café, e fazem rolinhos de fumo, sorriem e riem. “Shalom, At Cristina?” pergunta uma miúda sentada por detrás de uma secretária dourada. “Ken, ken, ani Cristina”- respondo. Ao fundo ouve-se “habibi” e o ritmo dos tambores, olho pelo corredor e vejo as alunas de uma aula avançada dançando naquele ritmo shimmy de barrigas trementes que faz cantar as moedas de latão pregadas nos lenços colocados à ilharga, acompanhados de braços ondulantes como se cada parte do corpo tivesse uma vida própria perfeitamente independente. Uauh, é assim mesmo que eu quero dançar!

  

Uma senhora mais idosa e de cigarro na mão direita, chama-me a atenção. “Sou a tua professora”, diz-me. De corpo voluptuoso, trajando um vestido de alças, roçando os tornozelos, em forma de saco, e que parece feito do mesmo tecido que as calças dos soldados do IDF, e com os pés gordinhos, mostrando umas unhas bem pintadas de vermelho, enfiados numas chinelas de cortiça Naot, made in Israel, sorri-me um sorriso simpático, animado por uns olhos azuis-escuros e um nariz adunco. É a primeira vez, não é? “Ken, ken, pam echad, naim meod”, digo eu.

  

De coração leve como uma adolescente, corro a vestir-me antecipando a minha primeira aula. A professora reaparece vestida com uma saia dourada comprida, de renda artificial, aberta dos lados até às ancas, fazendo sobressair a pregueada barriga e assente nos quadris logo abaixo do umbigo, e um top também dourado, descobrindo uns seios bem torneados. Agora, descalça.

  

“Habibi” começa a música, “ana entak, habibi”, a professora inicia a aula e pouco a pouco transforma-se na mulher mais bonita e harmoniosa do mundo. Desliza pelo chão como uma pena, firma-se e sacode as ancas em movimentos ondulantes como uma cobra, como uma leoa, como um camelo, eleva e baixa o peito em movimentos tentadores, a pele iluminada por um sorriso traquina de mulher segura de si e confiante nos seus movimentos e charme. Um braço com a mão voltejando aponta o coração, o outro alonga-se num gesto de dádiva a um invisível personagem. Explica-nos as regras do equilíbrio, do distanciamento, do bom humor atrevido na ponta dos lábios, constrói cada gesto do primeiro passo até uma composição coreográfica com que acabamos a aula em apoteose, batendo palmas, felicitando-nos mutuamente. Por uma hora sentimo-nos as mulheres mais belas do mundo. A dança oriental enfeitiçou-nos, como já tinha enfeitiçado os nossos bravos do tempo dos Românticos.

  

E quem são estas professoras? Ashkenazis com amor pela Riqudei Beten, nascidas na Europa Central que se apaixonaram pelo Oriente e que vivem nesta dicotomia: o mundo romântico da dança oriental vivido a nível privado, e a outra realidade mais dura, a de um país em guerra, mães de filhos que irão defender a pátria judia..., mantendo os seus primos, dodim, os palestinianos, a uma distância conveniente e segura.

  

Todos os adereços daquela sala oriental vêm do Egipto, de um tempo em que se sentiam seguras para ir às compras ao Cairo. No Egipto, desde há alguns tempos que é proibido dançar de ventre nú; se alguma vez virem dança do ventre naquele país com a barriga descoberta, podem partir do princípio que as suas executantes poderão ser israelitas de origem europeia, mas nunca egípcias.

  

“E quantos anos se terá de dançar para atingir o seu nível?”- pergunto. “Bem, eu danço há 25 anos e ensino há 15 anos!” Então, ainda há esperança.

  

Uma loura de cabelos tão longos que me faz lembrar “Rapunzel”, a princesa de um conto dos irmãos Grimm, que do alto da torre desenrola os longos cabelos louros para o seu amante se içar até ao cimo, vestida de azul celeste e branca como a neve, lidera a classe seguinte com movimentos precisos e graça euro-oriental.

  

A música é de Umm Kulthum, a diva egípcia, mas cantada por uma outra intérprete, já que por uma questão de respeito não se dança quando a diva canta!

  

Os movimentos seguem os instrumentos: para o acordeão movimentos circulares ou elípticos das ancas e coxas, para o Oud o shimmy, para o Ney os braços em movimentos ascendentes, etc.  

 

 “Uma das professoras é palestiniana; mas não lhe é permitido participar nos espectáculos” - conta-me a irmã da senhora do vestido militar que reconheço pelo idêntico nariz e também de cigarro na ponta dos dedos. “Temos algumas alunas árabes, mas os palestinianos não vêem com bons olhos as contorções sensuais das suas mulheres fora das alcovas privadas”.

 

 “Quando era seguro irmos ao Egipto, íamos aos clubes do Cairo; e dançávamos melhor do que as cairenses, com melhor técnica, mais controlo e, até, as nossas roupas eram mais interessantes e orientais. Assim que os espectadores tinham possibilidade de dançar, subíamos ao palco e todos ficavam boquiabertos porque éramos francamente melhores. Mas à pergunta, de onde vínhamos, nunca respondíamos que somos israelitas e, em público, falávamos sempre inglês entre nós. Mas as pessoas ficavam sempre intrigadas, porque reflectíamos uma sociedade israelita que eles desconheciam: uma loira, uma ruiva, uma morena, uma africana, uma oriental. No entanto, não sendo essa a perspectiva que projectamos para o exterior – ninguém chegava lá!” diz-me a professora branca de neve.

 

 Quem diria que, neste país fundado pelos ashkenazim, que quiseram estabelecer uma sociedade puramente ashkenazi, sonho esse destruído primeiro pelo holocausto e, mais tarde, pelo êxodo dos judeus sefarditas e mizrahrim que fugiram dos países árabes após a independência de Israel, e ameaçado pela fecundidade dos árabes palestinianos, a dança oriental iria ser ensinada e elevada à perfeição por professoras ashkenazis! Este país nunca deixa de me surpreender com as suas contradições, criatividade e "volte-face" inesperados.

 

 

 

 

copyright © 2010 cristina vogt-da silva

Paragem de Autocarro, na rua Allenby, 

o 121 tem como destino: Ariel

 

Novamente na rua, is "back to reality"; elevo o olhar e que vejo eu? Uma tabuleta de paragem de autocarro - o autocarro 121 tem como destino Ariel. Não lhes diz nada? Ariel é um colonato israelita na Cisjordânia, situado vários quilómetros além da linha verde. Segundo a tabuleta amarela, o centro da cidade parece estar bem ligado por transporte público a Ariel. O centro da “3rd hottest city in the world” – segundo o Lonely Planet, tem ligação directa a Ariel. Já lá estive, é uma bonita aldeia, que poderia ser suíça pelo seu estilo, e com óptimas e modernas infra-estruturas. Tem portões de entrada e de saída e muros de protecção. Um centro urbano moderno e desejável , fantástico para casais jovens sem preocupações esquerdistas, que aí poderão viver com ar puro e uma bela vista - em dias de sol avista-se o azul mar mediterrâneo a ocidente, e a oriente, os montes da Cisjordânia, ou grande Israel para os mais radicais, semeados por lugarejos destacados pelos minaretes das suas mesquitas nesta bonita e harmoniosa paisagem; os apartamentos são grandes e bonitos e a construção é feita para ficar, os preços por metro quadrado são irresistíveis; sem dúvida que são a inveja de muitos telavivenses que pagam rendas nova-iorquinas por apartamentos velhos no centro de Telavive; evidentemente que isto é possibilitado pelos apoios que o estado canaliza para os colonatos; embora a Al-Jazeera tenha relatado que os efluentes do colonato fluem directamente para as terras agrícolas palestinianas situadas mais abaixo – enfim, os dinheiros públicos não dão para tudo e não estamos propriamente na Europa! Surpreende-me que a cidade mais liberal do Médio Oriente tenha ligação directa e pública a um dos maiores colonatos ilegais israelitas, apesar dos muitos protestos dentro da sociedade israelita que até se têm concretizado em boicotes públicos às artes nos colonatos e muitas manifestações contra a política expansionista. Mas suponho, que tudo isto, seja uma questão de perspectiva e de envolvimento pessoal. De facto, este país nunca deixa de me surpreender pelos seus contrastes e pela liberdade misturada de uma opressão, por muitos considerada necessária à sobrevivência do país, que lhe permite estas diversidades.

 

Meus amigos: com esta introdução, espero ter-vos despertado não só a apetência por esta dança mas também pelo Shuk Ha Carmel e suas personagens, para além de não ter, de forma alguma, tentado menosprezar um certo espírito crítico positivo. E, o que há de positivo neste país, é exactamente, uma vivência colorida, uma liberdade de expressão, senão europeia, pelo menos paradigmática neste canto do mundo, em particular, para o sector maioritário da sociedade israelita. Termino este post já longo, para aproveitar os meus últimos meses de estadia e me sentir, juntamente com as minhas companheiras da dança “a mulher mais bela do mundo” durante aqueles momentos mágicos das lições de dança oriental! Até breve...

 

 

Copyright © Nov 2010 Cristina Vogt-da Silva - O PESCADOR DO CARMEL

 

Glossário:

riqudei Beten – dança do ventre (hebraico)

rakı - bebida alcóolica feita a partir do anis

shekel e agorot - moeda israelita

habibi – meu amor, minha querida (árabe)

at Cristina? – és a Cristina?

entak – em ti (masc) (árabe)

ana – eu (árabe)

naim meod – muito prazer (hebraico)

Eloim – um dos nomes de Deus no judaísmo

uzi – metralhadora

dod(im) – primo(s) 

 

texto e fotos copyright © 2010 cristina vogt-da silva

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

publicado por Cristina Dangerfield - Jornalista às 14:05
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