Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2012

E1 - Palestine Divided for ever

Palestine divided for ever and "UM ANO EM TELAVIVE"

 

The politics of creating facts on the ground has no end in sight. According to the following article in the link below, Bedouins will eventually be expelled from the areas between Maale Adumim and Kfar Adumim to be linked by the E1, a road that will cut the north from the south of the future state of Palestine. Both Maale and Kfar Adumim are Israeli villages East of the green line. They are settlements built in breach of international agreements, that is to say in breach of public international law. These illegal settlements are there to stay. These settlements are in fact villages built to European quality standards in terms of infrastructures. They are not provisional camps with tents or pre-fab dwellings pitched on them. Maale Adumim looks like a Swiss village: well planned, clean and nice to live in!

 

http://www.aljazeera.com/indepth/features/2012/12/2012121111183924603.html

 

Below follows a text from my book "Um Ano em Telavive" (One Year in Tel Aviv). A trip to the Dead Sea on the road towards Jordan. From this transit road leading to the lowest point on earth you can see on both sides as you travel through a passing landscape of occupied territories and the said settlements. A confusing succession of sections A, B and C  of which one never knows when and where they start and finish. A sight one will never forget!...

  

Extract from "Um Ano em Telavive" - original text before publication protected by copyright June 2008 Cristina Vogt-Silva aka Cristina Dangerfield-Vogt

 

 

Extracto de “Um Ano em Telavive”, na versão original anterior à publicação do livro, revisto em 2012, pela autora. A versão original está registada e protegida com copyright © de Junho 2008 de Cristina Dangerfield-Vogt. Versão revista também protegida por copyright © 15 Dezembro de 2012 da autora.

 

Início de citação da obra “Um Ano em Telavive” de Cristina Vogt-da Silva (pseudónimo de Cristina Dangerfield-Vogt) versão original revista.

 

15.02.2008, “Palestinians: Ailing woman dies after IDF denies her ambulance” - in Ha’aretz.

 

12:49, “5,3 Earthquake hits northern, central Israel; no damage reported” - in Ha’aretz.

 

19.02.2008, “Ashkenazi Chief Rabbi Yona Metzger … suggested establishing the Palestinian state in the Sinai desert and moving the residents of Gaza there- in Ha’aretz.

 

Viagem para o oásis Ein Gedi

 

Revia alguns textos no meu computador quando fui sacudida por um abanão; o meu laptop quase me caía no colo e eu da cadeira sem poder salvar o meu último texto, quando incerta ainda pensava que era tudo um sonho ou que talvez não devesse ter terminado a última refeição dos bacalhaus com um cálice de vinho do Porto, depois do bom vinho dos Golãs; num segundo de pânico ainda pensei que o Irão afinal tinha armas nucleares e tinha decido cumprir a promessa do seu presidente de apagar Israel do mapa, ou que o Hizbulah tinha conseguido iludir a vigilância dos mísseis patriotas no norte de Israel e Telavive acabava de ser bombardeada. Arrependia-me de não termos arrendado o apartamento com bunker, em Ramat Aviv, e benzia-me e revia num flash todos os meus pecados dos últimos anos, quando num assomo de racionalidade, me lembrei que já tinha vivido outros abanões: primeiro em Lisboa nos anos sessenta e na Turquia em Agosto de 1999, este último de proporções catastróficas. Telefono imediatamente em todas as direcções, mas ninguém tinha sentido fosse o que fosse. Todos dessensibilizados pelo trabalho, uns “workaholics” que já nem sentem a terra tremer-lhes debaixo dos pés. Passados dez minutos é mencionado o abanão nas notícias de última hora do Haaretz – “tremor de terra com a magnitude 5.3 na escala de Richter atinge o norte e o centro do país...sem vítimas nem estragos de maior” e mais tarde aparecem os relatos directos dos mais sensíveis. No quarto do meu filho abre-se uma racha do chão ao tecto como testemunha do abanão. Respirei de alívio e continuei pecadora.

 

Viagem do Salgado Mar ao Mar Salgado – de Ocidente para o Oriente

 

Partimos de Telavive em direcção ao Mar Morto, em hebraico o mar salgado, no que é uma descrição relacionada com a concentração salífera 10 vezes superior à habitual. Conduzimos pela auto-estrada nº 1 em direcção a Jerusalém. Passamos por paisagens que poderiam ser da Europa central e admiro o avanço tecnológico deste país idealizado no séc. XIX, e princípios do séc. XX, por apenas 5% por cento da população judia mundial, as elites da intelligenzia ashkenazi, que se dedicaram à causa sionista e conseguiram criar um país novo com uma língua nova (antiga em termos religiosos). É de facto incrível e impressionante o desenvolvimento imposto. A ideia de criar o estado judaico cresceu paralela às grandes ideologias nacionalistas que marcaram o séc. XX, e muitos anos antes da solução final de Hitler, que apenas terá precipitado a sua criação e lhe terá proporcionado as condições ideais para um esmagador apoio internacional. Há uns dias atrás, alguns intelectuais alemães declaravam mea culpa numa conferência internacional, assumindo a responsabilidade pelo êxodo dos palestinianos, que afirmaram ter sido uma consequência indirecta do holocausto, no que considero ser um desejo de carregar uma culpabilidade ad infinitum, que me faz  lembrar o pecado original do mundo católico.

 

Nos arredores de Jerusalém – os Territórios

 

À medida que nos afastamos da cidade, a paisagem muda; à direita os muros de pedra branca da região, delimitando socalcos, com pequenas vivendas claras e alinhadas regularmente ao longo da colina - o lado israelita, à esquerda um muro de pedra branca, a que se segue um muro de separação de arame farpado, o muro das lamentações palestiniano, 3 vezes mais longo do que o muro de Berlim, em alguns sítios com o dobro da altura daquele, atingindo os 8 metros, muros quebrados por 561 postos de controlo; uma das aldeias deste território, Qalqilya, está completamente rodeada pelo muro e tem apenas um posto de controlo para dar passagem aos seus habitantes: crianças que vão à escola em outras aldeias, trabalhadores que saem para trabalhar do outro lado do mundo, pessoas que vão às compras ou que se dirigem a hospitais, visitam familiares, etc., num quotidiano dificultado por esta saída de funil. Os habitantes daquela vila sujeitos à discricionariedade e ao bom ou mau humor dos soldados de serviço naqueles postos.

 

Do outro lado do muro fica a Cisjordânia, ou os “territórios” palestinianos ou os territórios ocupados, conforme o ponto de vista político do observador. Primeiro avista-se as lixeiras, que a exiguidade do território obriga sejam situadas mesmo ao lado dos prédios de habitação, estes pintados em tons claros e com terraços. Muitos destes detritos são descarregados ilegalmente na “Margem Ocidental do Jordão”, muito para além da linha verde, lixos poluentes: colas, solventes e amiantos, que não só poderão afectar a saúda da população local, se absorvidos pelas águas freáticas, como esta prática inviabiliza e arruína economicamente as empresas transformadoras de lixos em Israel.

 

Perto dos portões de entrada, nas guaritas e nas barricadas protegidas com sacos de areia, escondem-se os soldados com armadura de combate e coletes antibalas. Um tanque espera impassível à beira da estrada; os postos e as torres de controlo armados de metralhadoras, os rolos de arame farpado, que mais parecem armadilhas de ferro para caçar animais, espalhados pelo chão asfaltado e as longas filas de espera com veículos e nacionais palestinianos, são um quotidiano que exige muita paciência. Tudo isto nos recorda que aqui se vive em estado de sítio, não oficialmente declarado, e, sobretudo, que se vive num conflito sempre à beira do desastre! Pela auto-estrada circulam táxis de matrícula verde com os números brancos dos territórios palestinianos, os veículos blindados da UN, os veículos civis israelitas, e os jeeps da polícia e da tropa israelita num rodopio de encontros desencontrados.

 

Uma placa indica Ramallah, a capital dos territórios sobre administração palestiniana: um território semeado de colonatos judeus, que continuam a ser estabelecidos na Cisjordânia ilegalmente, muitos deles nos terrenos privados de proprietários palestinianos, impedindo-lhes o acesso aos seus terrenos agrícolas e aos seus poços, o exercício dos seus direitos de servidão em terras de direito próprio, deixados à decisão arbitrária dos soldados de serviço na guarita. O todo fazendo parte de um xadrez geográfico, que mais parece uma manta de retalhos, e que só é compreensível à luz de uma estratégia política de separar para melhor reinar.

 

Beduínos - desapropriação e outras desgraças locais

 

Do lado direito, à beira da estrada algumas mulheres beduínas, de lenço preto e túnicas azuis escuras debruadas a fio dourado, apanham ramos de árvores para os seus fornos que colocam nos alforges dos burros. Nas encostas das colinas o sol reflecte-se na chapa dos telhados das barracas, onde vivem os orgulhosos beduínos de turbantes brancos: agricultores, pastores e condutores de tractores, no que lhes resta das suas terras centenárias. Ao longe as beduínas de lenço branco caminham vergadas pelo peso dos cântaros de água; 40 por cento das mais de 46 aldeias beduínas não têm água corrente e nenhuma tem electricidade porque o estado israelita não reconhece a existência destas aldeias, algumas das quais existem há mais de 400 anos. Em 2007 foram destruídas centenas de casas nas aldeias beduínas consideradas ilegais porque o governo israelita se recusa a reconhecer o direito de propriedade da terra aos beduínos. A partir de 2004, alguns dos campos agrícolas dos beduínos foram pulverizados com veneno para os tornar improdutivos e os obrigar a sair das terras, numa política oficial de os forçar a abandonar o seu modo de vida tradicional – a agricultura - pela sua destruição (fonte: Haaretz)

 

Há uns dias atrás, esteve de vista à Santa Terra, o presidente americano, George Bush. Ele garantiu estar certo que no próximo ano haverá paz na região! Será que o religioso líder do império americano veio em peregrinação à Terra Santa para se redimir dos seus pecados belicistas? Outros o fizeram por motivos de promoção carreirista na memória dos povos – mas o resultado foi sempre - Shalom another day, a paz fica para a próxima!

 

Descida ao Inferno bem-guardado

 

Continuamos a descer, e entramos no deserto da Judea, estamos agora ao nível do mar, à medida que descemos, a paisagem muda, a vegetação desaparece para dar lugar a montes do deserto de pedra, de cor de areia: 280 m abaixo do nível do mar, assinalado a preto num pedregulho. Continuamos descendo. Passamos por um pequeno aeródromo guardado por um camelo, possivelmente o seu segurança. No final da auto-estrada nº 1, o último check-point, vigiado por soldados armados - eles e elas. De repente sai um tanque – uau, cool! - diz o meu filho, num fenómeno contorcionista, todo esticado no banco de trás para abraçar toda a panorâmica. Verifica-se uma certa agitação, o soldado no alto do seu ponto de observação aponta a sua metralhadora Uzi. Penso de imediato no folheto de orientação para expatriados da empresa, que tínhamos acabado de receber, aconselhando-nos praticamente a não pôr o pé fora de casa, e que, se o fizéssemos, as consequências seriam da nossa inteira responsabilidade – sem dúvida escrito zelosamente como prevenção de eventuais indemnizações às famílias expatriadas no caso de terrorismo - mas tudo acalma novamente. Paramos e perguntamos se podemos seguir. O rosto sério, sem sombra de sorriso, da jovem soldado, que nos acena com a metralhadora um be seder, ha kol dvash para passarmos. Nesta região não há nem tempo nem disposição para brincadeiras. Se continuássemos pela auto-estrada nº 1 chegaríamos à ponte Allenby, que liga Israel à Jordânia. O nosso destino sendo, no entanto, o kibutz Ein Gedi viramos para a estrada nacional nº 90, na direcção do sul, que corre ao longo do Mar Morto, da qual se avista o deserto jordano do, actualmente, estado amigo de Israel. A estrada nacional nº 90 foi construída no que foi, anteriormente, o território ocidental da Jordânia, daí Cisjordânia, país que concedeu esta sua faixa aos israelitas para o estabelecimento de um estado palestiniano. Até ao presente não foi cumprido este acordo por parte dos israelitas.

 

A paisagem é fabulosa, nunca pensei vir a gostar do deserto, ele é lindo e envolvente. De início avista-se apenas o mar salgado e a terra seca. De quando em vez, passamos por enormes palmeirais, plantados em absoluta simetria. Fantasio príncipes árabes montados em camelos e acompanhados pelo seu séquito de belas princesas e eunucos saindo das mil e uma noite assim recordadas. Passamos por placas que indicam as fábricas da AHAWA e da Mineral Care – comésticos – e não se avista uma única aldeia.

 

Um nauseabundo cheiro a ovos podres, um aroma sulfúrico avassalador, invade aquela beleza. Descemos às profundezas do inferno. Ao fundo, na encosta da montanha, avistamos um pequeno planalto com uma mancha de vegetação luxuriante – é o nosso kibutz, um oásis no meio do deserto.

 

Ein Gedi – o oásis bíblico

 

Este oásis já existiria em tempos bíblicos. Diz-se mesmo que Jesus terá passado por aqui. Porém, no tempo do mandato britânico estava muito reduzido. Um grupo de sionistas estabeleceu nesta colina o kibutz de Ein Gedi, numa altura em que não era acessível pelo Norte, visto que Jerusalém só foi anexada pelos israelitas em 1967. Os kibbutzim viveram muitos anos isolados, trabalhando a terra e construindo uma vida nova. No kibutz há uma escola, serviços médicos, biblioteca, recintos para desporto, restaurante, ou seja, exitem todos os serviços necessários numa aldeia moderna com 300 pessoas. O kibutz tem cerca de 150 sócios adultos e é todo rodeado por um muro e arame farpado.

 

Ein Gedi tem uma vegetação luxuriante, é verdíssimo. Pensar que o deserto é seco é um mito. As águas das chuvas penetram os solos porosos facilmente e atingem rapidamente os lençóis de água; no deserto há muita água, mas ela tem de ser bem gerida.

 

Neste kibutz há uma zona hoteleira, com bungallows muito confortáveis e uma vista fantástica para o deserto e para o Mar Morto. É uma situação estranha e quase irreal, que observo recostada numa das cadeiras do terraço acompanhando com os olhos o percurso das aves de rapina até ao cume das montanhas do deserto de pedra vislumbradas através da folhagem das exóticas árvores do jardim botânico, com os seus canteiros de cactos de várias espécies e dimensões, ouvindo variações da sinfonia chilreante dos pássaros da região. À noite um céu estrelado, sem uma nuvem e o silêncio do deserto.

 

Muito espantados ficamos quando entramos no restaurante e deparamos com uma população de reformados. Enquanto esperávamos por mesa vaga, pensei – meu Deus estamos nas termas de Sylt, no Mar do Norte, porque à nossa volta conversava-se em alemão. Segundo informações obtidas, os seguros de saúde alemães contribuem generosamente para os tratamentos termais em Ein Gedi. E nós que pensávamos ir encontrar uma solidão romântica e original no meio do deserto!

 

Na Praia fomos a banhos salífero-sulfúricos

 

No dia seguinte dirigimo-nos à praia privada de Ein Gedi, com as suas termas sulfurosas e banhos de argila. Entramos, dão-nos roupões brancos com o emblema da casa e lá vamos chinelando em direcção ao tão convidativo mar. O passeio deve ser feito a pé, para ver os pântanos e as areias movediças circundantes – tudo vedado e com indicação de ser absolutamente proibido desviar-se do caminho marcado; ao longe avista-se um jeep atolado à laia de aviso! O meu filho adolescente, porém, insiste que quer ir ver o pântano e meter o pé nas areias movediças: eu  rezando aos santinhos todos para que não saia uma mão de Hades das profundezas sulfurosas que o receba e desapareça com ele estilo espada do rei Artur – eu sei que estas ideias resultam dos muitos romances da colecção dos rapazes que li na minha infância.

 

Assim que chegamos à praia do kibbutz, dirigimo-nos para o mar escorregando umas tantas vezes no fundo duro e salgado do mar. “Cuidado com os olhos!” grita o banheiro! Demasiado tarde, porque um dos idosos deita as mãos aos olhos em lamúrias. Depressa acorre o banheiro com uma garrafa de água doce para aliviar o padecente. Um miúdo berra porque tem uma ferida no pé a arder. Entramos lenta e cuidadosamente até a água nos alcançar a cintura. Inclinamo-nos para trás abandonados num boiar naquele mar que não mexe e onde é impossível afundarmo-nos, desfrutando aquela paisagem fantástica. O resultado: uma pele sedosa e oleosa. Ao lado da cadeira de praia, está uma selha de lama argilosa e sulfurosa para aplicar no corpo, que deixamos secar uns minutos até ela ficar estaladiça. Já vários idosos se passeiam parecendo aliens, dizendo-me um – veja converti-me – tinha formado uma kipa de argila no alto da cabeça. A lama retira-se com água quente e sulfurosa que sai dos chuveiros perto das termas. Cuidado porque também ela é salgada, o que descobri quando quase fiquei cega de dor e tive de ir às apalpadelas e aos tropeções para os chuveiros de água doce e gelada! Recomendo mas o cheiro é mesmo diabólico e ia apanhando um resfriado!

 

Entrámos para o pavilhão das termas, onde se situam as piscinas de água sulfurosa e mineral, com temperatura de cerca de 40 graus, o que não se aguenta mais de 15 minutos, e que não aconselho a grávidas. Eu diria, nem a crianças nem a adultos com tensão baixa ou pessoas mais sensíveis e impressionáveis porque o pivete é tão diabólico que só desaparece passados vários dias. Imaginem o que é andar vários dias a cheirar a demo...mas há gostos para tudo! Pessoalmente, só gostei de boiar no mar enquanto olhava para o deserto à minha esquerda e à minha direita, naquele mar – lago – sem uma onda. Como é possível que de tanta harmonia surja tanta desarmonia, de certeza a culpa é dos vapores diabólicos. O ar muito oxigenado alimenta a criatividade, e talvez seja por isso mesmo que a região tenha inspirado tantos profetas com as suas convicções tão absolutas e inabaláveis, sem espaço para a difusa tolerância.

 

Massada – símbolo de heroísmo e da resistência dos israelitas –

Massada, jamais!

 

No dia seguinte, depois do pequeno-almoço olhando o deserto, decidimos ir a Mezuda - Massada - uma antiga fortaleza com palácios, agora em ruínas, situada num planalto no alto de um penhasco no deserto da Judea perto de Ein Gedi. Foi o último reduto da resistência judia ao invasor romano e testemunha do suicídio colectivo da sua população e é o símbolo nacional da resistência israelita aos seus inimigos. Todos os anos sobem recrutas do IDF carregados de mochilas e metralhadoras pela íngreme encosta e aqui juram que Massada não voltará a cair. A nossa amiga sabra também lá esteve e, quando estava quase no topo, deixou cair a metralhadora que lhe rolou encosta abaixo; voltou a descer e a subir, isto no verão, e acredito que apesar do cansaço jurou alto e convictamente a defesa da pátria. Pelo menos, foi a história que nos contou, embora a criatividade da região me seja por vezes, suspeita! Poderíamos também subir a pé, porém a nossa condição física não é exactamente propícia a essa aventura e optamos pelo prático e moderno teleférico. Lá em cima a vista é fantástica: vê-se todo o deserto circundante até à linha do horizonte e o imenso mar morto. Não se percebe exactamente como é que os romanos conseguiram conquistar a fortaleza. Massada era uma cidade auto-suficiente, fortificada, com armazéns, palácios, termas e banhos públicos, casas de habitação, lojas, ginásio etc. rodeada por muralhas prolongando os penhascos que descem quase a pique até à sua base. Herodes mandou construir aí um palácio luxurioso e luxuoso e um sistema de recolha e abastecimento de água. Os romanos cercaram Massada com os seus acampamentos durante dois anos. Os seus habitantes, os zelotas, resistiram até os romanos construírem uma rampa que lhes permitiu rolar uma torre de assalto até ao pé da muralha de onde lançaram pedras ardentes que, finalmente, e com o vento a seu favor, incendiaram a muralha que acabou por ruir. Antes de os romanos invadirem a fortaleza, os zelotas mataram as mulheres e as crianças e, tirando à sorte, foram matando os companheiros, suicidando-se, por último, o único zelota sobrevivente. Preferiram esta morte trágica a ver os seus filhos e as suas mulheres acabarem como escravos dos romanos. Massada é o grande símbolo da resistência e heroísmo judaico. A história de Massada nunca se voltará a repetir – é este o juramento dos israelitas.

 

Grupos de turistas nórdicos, imbuídos da solenidade do local, caminham quase em bicos dos pés, falando em sussurros, e a paz e silêncio da fortaleza apenas são quebrados pelas vozes altas dos turistas americanos da diáspora, no seu inglês nasalado e aquele entusiasmo barulhento que nos é conhecido. Só faltava ver saltar de entre eles um Jackie Chan vestido de zelota em peripécias acrobáticas de arte marcial.

 

À saída um grupo de deficientes em cadeiras de rodas conduzidos pelos seus assistentes vêm eles também render homenagem aos seus heróis.

 

Sem dúvida, um sítio de perder o fôlego, carregado da solenidade da sua história trágica e antiga e não de somenos importância ideológica.

 

Nos Wadis do deserto há água

 

No dia seguinte, e já de partida, decidimos ainda passar pelo Wadi David, um vale protegido por paredes escarpadas, e quase a pique, situado também no parque natural de Ein Gedi. Percorremos apenas o trajecto até à cascata, em cerca de 1 hora. Pelo caminho letreiros de madeira indicam a existência dos Ibex, avisando que poderiam fazer rolar as pedras e os pedregulhos das escarpadas encostas. Seriam animais selvagens? Talvez sejam tigres deixados pelos jordanos para amedrontar os colonos! Ao virar a esquina de um pedregulho, encontramos no seu topo uns animais roedores muito engraçados, com o dobro do tamanho de um esquilo, os Ibex”, que estavam sentados numa pedra a roer as unhas e a olhar para nós muito curiosos. Continuamos seguindo o trilho por umas escadinhas estreitas. Controlo as vertigens que me assaltam e olho as escarpadas encostas no sentido ascendente. Não quero pensar no que será o caminho de regresso. Passamos por cascatas e piscinas naturais, formações rochosas esculpidas pela erosão, alguns rochedos enormes e basculantes, e ainda uma vegetação muito verde e variada circundando as cascatas, fazendo adivinhar toda uma vida selvagem escondida neste deserto. Bastava a terra voltar a tremer para uns pedregulhos rolarem e acabar por aqui mesmo o meu livro de viagem.

 

Um pouco mais adiante, encontramos um grupo de miúdos - a abrir e a fechar o cortejo, soldados armados de metralhadora protegem os miúdos. Um pouco estranho para nós mas, aparentemente, a lei israelita obriga a esta precaução; desta forma, fico a saber que também os grupos da escola americana do meu filho são sempre acompanhados de soldados ou, pelo menos, por seguranças armados - o que até agora não sabia, não me tinha causado preocupações! Na subida, deparamos com um senhor italiano sentado numa das pedras, ao sol, rodeado por duas donas, que a avaliar pela sua barriga tremente e os suspiros assustados não tinha preparação física para andar por caminhos de cabras. Como ele apenas fala o italiano, ajudo-o o melhor que posso ao nível linguístico. Dói-lhe o coração e não consegue respirar. Deixo-o com um soldado – a fazer “serviço cívico”, o que neste país é proibido, ou seja, não há alternativa ao serviço militar e os objectores de consciência estão nas prisões.

 

Já no fim do passeio, verifico que chegam mais e mais grupos de caminhantes de várias idades, alguns deles muito idosos – deixando-me a dúvida se irão sobreviver àquela cansativa e desafiadora caminhada!

 

Voltamos para Telavive pela estrada nº 90 e pela auto-estrada nº 1, revisitamos a desoladora verdade dos muros da vergonha entre a Palestina e a Palestina para uns, entre o Reino de Israel e o Reino de Israel para outros – uma paisagem política que nunca esquecerei. Esta oportunidade única de ver in loco este conflito que se perpetua e cujas tentativas de resolução parecem não ter futuro.”

 

Fim de citação da obra “Um Ano em Telavive” de Cristina Vogt-da Silva (pseudónimo de Cristina Dangerfield-Vogt) – texto revisto.

 

(Texto revisto pela autora em 15 de Dez de 2012)

Copyright de todo o texto © Junho 2008 de Cristina Dangerfield-Vogt

 

Original text protected by copyright © June 2008 from Cristina Dangerfield-Vogt

Revised text protected by copyright © 15th December 2012 from Cristina Dangerfield-Vogt

publicado por Cristina Dangerfield - Jornalista às 11:16
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