Queridos amigos e leitores do meu blog,
O inverno israelita de 2008-2009 foi marcado por um mês de guerra em Gaza. Segundo o governo israelita, teria sido a resposta aos Qassams que caíam e, aliás, continuam a cair no sul de Israel. Contudo, quase toda a comunidade internacional ficou chocada e, sobretudo, foi quase unânime na condenação do ataque gravemente desproporcional à ameça dos rudimentares Qassams. Nessa altura estava em Telavive e, tal como o resto do mundo, vivi a situação em estado de choque. Mas chocou-me, muito especialmente, ver os telavivenses sentados nos cafés bebendo a bica local sob os amenos raios de sol do inverno, enquanto a uns meros 70km de distância se desenrolava a Guerra de Gaza e, evidentemente, no território israelita perto de Gaza se vivesse noites brancas de medo; os outros, os gazeanos, viviam-nas iluminados por bombas de fósforo, de acordo com o relatório do Sr. Goldstone. Deste estado de espírito nasceram os dois poemas abaixo que partilho convosco. Note-se que não sou poeta e que prefiro a prosa. Perdoem-me o diletantismo e leiam com paciência.
Guerra e Fotos – Fronteiras entre as Realidades
Cair - caiem, caíram, cairão...
Levemente
Batem no solo
As Bombas,
Levemente acertam e desacertam
Nos alvos – móveis e imóveis,
Levemente como penas caem,
Num filme a preto e branco,
Branca a mortal poeira do que ficou
Flutuando no ar.
Vultos negros e brancos,
Empoeirados e humilhados
Procuram nos destroços ainda fumegantes
Com mãos trémulas e inseguras
As sombras das recordações,
O grito mental que não se solta
Daqueles peitos oprimidos,
Atravessado nas gargantas ressequidas,
As bocas resignadas numa fina linha
Cerradas, incrédulas e horrorizadas
Os olhos secos fixando nos cartões sépia
De cantos chamuscados
As almas já a caminho dos céus...
E no deserto deste mundo cinzento
Perante tamanha crueldade
Perguntam mudas:
Porquê tanta indiferença,
Que fizemos a Deus, e Onde está Ele?
Praia de Telavive Janeiro 2009
Texto e fotos: copyright © Janeiro 2009 de Cristina Vogt-Da Silva
QUASSAMS
Uma sirene soa aflitiva,
No céu um rasto de Quassam,
Os minutos não serão bastantes
Para uma corrida evasiva.
Uma criança chora,
Outra molha a cama,
Os olhos claros aterrorizados,
As mãozinhas tremendo suadas.
Corre, corre meu filho!
Não te deixes apanhar pelo ódio
Dos impotentes cercados,
Pelas armas dos pobres sitiados,
Corram, corram para os abrigos,
Avós, Pais, mães e filhos
Em correrias certeiras,
E destinos mútuos incertos,
Todos os dias, de minuto em minuto,
Em cada segundo,
Preparados para correr ao grito
Sibilante da sirene,
– Pela vida, fugir...
E pela pátria marchar, marchar
Ó bravos donzéis
Pela pátria marchar...
Pela pátria gritar juramentos
E (des)obedecer ordens
De olhos fechados
E pela pátria, indiferentes –
Ignorar, ignorar, ignorar!
Soldado no passeio marítimo de Telavive
Texto e Fotos copyright © Janeiro 2009, Cristina Vogt-Da Silva
PS. Poemas escritos em Telavive durante a guerra de Gaza em 2008-2009
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