Quinta-feira, 16 de Abril de 2015

Dia do Holocausto em Israel - foi assim naquele ano ... Yom ha Shoa

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Jardim dos Justos no Museu de Yad Vashem

copyright © 2007 Cristina Dangerfield-Vogt

all copyright reserved - texts and photos  by cristina dangerfield-vogt

 

Um ano em Telavive

- Crónicas de uma portuguesa em Israel –

 

de Cristina Vogt-da Silva

(pseudónimo de Cristina Dangerfield-Vogt)

 

 

 

Extractos do texto original  de "Um Ano em Telavive" - o meu livro sobre Israel escrito entre 2007 e 2008


30.04.2008, „Holocaust Remembrance Day to begin tonight at Yad Vashem“ “Qassam hits Sderot home; residents treated for shock” “Qassam strikes Ashkelon district, woman and child treated for shock” – in Haaretz

 

O Dia do Holocausto - Yom ha Shoa


O dia do Holocausto em Israel é lembrado numa data diferente do dia Internacional do Holocausto e tem início ao pôr-do-sol e termina no dia seguinte ao pôr-do-sol. É um dia de discursos e recordações muito penosas para os sobreviventes. Muitos dos sionistas nunca entenderam a razão pela qual as vítimas, os judeus da Europa Central, não se souberam defender. Mas a complexidade de sentimentos das vítimas deste crime abominável passa pela sua própria incredulidade perante a perseguição que as vitimizou nas sociedades em que se sentiam e consideravam inseridos. Durante vários anos, os próprios judeus que já residiam na Palestina antes do Holocausto recusaram ouvir os relatos das vítimas, criando involuntariamente uma espécie de vitimização secundária que lhes tornou impossível esquecer e ultrapassar os seus traumas e pesadelos. Da programação televisiva neste dia doloroso constam exclusivamente documentários, filmes, mesas redondas, etc. sobre o Holocausto! Todos os locais de lazer e entretenimento estão fechados ao público e existe mesmo uma polícia especial para verificar o cumprimento da lei. É dia de sofrer em memória dos que sofreram – “lechol ish yesh shem, she naten lo elloim, naten lo ivo ve imo” (para cada pessoa um nome, que Deus lhe deu, e o seu pai e a sua mãe lhe deram) é o refrão de um hino cantado neste dia em que são lidos os seis milhões de nomes dos judeus assassinados no Holocausto, a Shoah, no parlamento israelita, o Knesset, e no museu dedicado ao holocausto, Yad Vashem, ambos em Jerusalém.

 

Dia em que, por vezes, os ânimos estão exaltados!...

 

...

 

1.05. 2008, “Palestinian medics say two wounded in IAF Gaza airstrike”,– in Haaretz
“Sirens wail nationwide as Israelis honor Holocaust victims”- in Haaretz


A sirene começou a tocar, durante um tempo interminável de angústia –  não temos máscara, não nos foi distribuída, o abrigo é na cave do prédio – o Hizbullah terá lançado um míssil de maior alcance neste dia fatídico, ou será de Gaza que fica apenas a setenta quilómetros de Telavive? Espreito pela janela e olho o silêncio na nossa rua...carros parados, portas abertas, pessoas estátuas, a cidade mergulhado numa reflexão hirta...não se ouve bombas, não há gritos, a sirene continua o seu sibilar ciciante, ensurdecedor...uma criança puxa o braço da mãe estátua, morde o beicinho, sai-lhe um grito que aumenta enquanto a sireme começa a emudecer o seu sopro prolongado ... os pássaros retomam o chilreio...as estátuas tornam-se pessoas, a criança recobra o grito, sorri ao sorriso da mãe. Foram dois minutos de reflexão assinalados pela sirene que soou por todo o país ao mesmo tempo em memória das vítimas do holocausto.


O que me trás imediatamente à memória o monumento inaugurado recentemente no Largo de São Domingos em Lisboa, em memória dos milhares de Judeus da capital assassinados pelos seus vizinhos, pelo mero facto de serem Judeus, um massacre acontecido há cerca de 500 anos na nossa pacata cidade dos brandos costumes. Um testemunho da nossa participação na perseguição deste povo que se diz "escolhido".

 

... 

 

"It was strange to see the men and women comrades in their holiday clothing and carrying their weapons. But this strange combination also spoke, saying other days will come, they will come .... This night will certainly go down in history. The tale will be told of the comrades, tired from their day's work and their night's guard duty, how their eyes lit up and all tiredness fled from their faces at the Voice of the Haganah's call to drink a fifth cup of wine to Hebrew Haifa," from the Journals of Ruth Gefen-Dotan of Kibbutz Ayelet Hashahar in the Upper Galilee. "


Este parágrafo dos diários de Ruth Gefen-Dotan é uma versão da história! Uma moeda tem duas faces e neste grande jogo da vida não é só a sorte ou o azar que decide caras ou coroas, neste caso, é a força interior nascida de uma história de perseguições centenária de um povo que se considera escolhido por Deus e que parece ter sido escolhido pelos homens como tubo de escape de todos os males sociais.

O reverso da medalha é ilustrado pela história do nosso já conhecido palestiniano de Lisboa. A sua família era originária de Haifa - uma família abastada e conceituada nesta cidade portuária, que foi obrigada a abandonar a cidade, onde tinha vivido durante vários séculos, quando os sionistas a conquistaram.  Separados do mar mediterrâneo por apenas uns sessenta quilómetros, mas para sempre pelos muros erigidos entre o Estado de Israel e a Cisjordânia, a cidade de Haifa é uma recordação de família desde a fundação do estado sionista imaginada na sua actualidade a partir de Nablus ou Schechem, o nome hebraico, que conta também uma história diferente. A Palestina é uma pátria perdida que está, simultânemamente, tão longe e tão perto!

Para visitar a família do nosso amigo terei de ir a Nablus, na Cisjordânia, e a minha entrada nos territórios estará dependente da discricionariedade dos soldados nos postos de controlo, e haverá alguns riscos, na própria Cisjordânia, em cujo território nem sempre a segurança dos turistas pode ser garantida. Mas pelo menos poderei passar para o outro lado do muro e voltar, vivenciar dois mundos, viver em directo esta situação absurda de dois povos separados por muros de incompreensão e intolerância mútuas. Um povo refugiado nos montes da Cisjordânia que não desiste do seu direito de retorno. Só que as casas dos palestinianos que partiram em marcha forçada expulsos pelos movimentos de guerrilha judeus estão ocupadas pelos judeus da Europa perseguidos pelos campos da morte. Quid juris?

No ano de sofrimento para uns e de regozijo para outros, de expulsão ou de salvação, conforme a vítima, esta família, em particular, fechou e trancou a porta da casa centenária, levando consigo a chave do seu lar. Partiram, pensando voltar. Aquela chave ocupa desde então lugar de honra na vitrina das recordações e é um símbolo do direito de retorno; nunca perderam a esperança de um dia voltar a abrir a porta daquela casa no litoral, deixada para trás num dia de verão tórrido.

 

Mas a história da humanidade está repleta de outros exílios e êxodos!

 

 

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 Qalandia Território ocupado da Palestina ou Territórios ... Posto de Controle

 

 

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Cisjordânia perto de Ramallah

 

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Campo de Refugiados de Qalandia a caminho de Ramallah, Cisjordânia

 

....

 

4.05.2008, “Palestinians: IDF kills civilian in Gaza; three rockets hit Sderot” – in Haaretz 

 

Começou a época de praia


Hoje é domingo, o primeiro dia útil da semana em Israel, dia de trabalho. Está um dia lindo e convidativo para ir dar uma olhada à praia. Monto a bicicleta e pedalo pelo parque Hayarkon em direcção ao mar. Passo o porto, Nahal Telavive, e pelos seus restaurantes turísticos com explanadas convidatias, e pedalo decididamente em direcção à minha praia favorita – a do Hilton, situada depois da praia dos ortodoxos, separada por muros, mesmo ao lado da praia reservada aos cães.

 

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 copyright all texts and photos © cristina dangerfield-vogt 2007

...

 

Pelo caminho, assalta-me e mantém-se como leitmotiv dos meus pensamentos uma frase sobre o povo judeu na diáspora de Stefan Zweig, no seu livro, “O Candelabro Enterrado”, escrito em 1937 : “o lamento do exílio comum era tudo o que os ligava sobre a terra”. Esta frase leva-me a outra, de cunho pessoal, que penso caracterizar os israelitas - a memória do exílio comum é o elo indestrutível que une este povo diverso, e os faz lutar por esta terra de Israel - cujos 60 anos de existência permanentemente ameaçada serão celebrados no dia 8 de Maio, e cujos soldados caídos por ela serão relembrados no dia anterior às celebrações, dia que é designado em hebraico por "Yom Hazikaron".

 

Mas há sempre o reverso da medalha - a Naqba, neste caso. (vide post seguinte a publicar)

 

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 Jaffa - Mural

 

© todos os direitos reservados (fotos e texto) neste blogue -  Cristina Dangerfield-Vogt

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"Um Ano em Telavive" Original script copyright and Photos © registered by the author in June 2008, Lisbon, Portugal.

 

 

 

publicado por Cristina Dangerfield - Jornalista às 11:19
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