A propósito do Dia Internacional do Holocausto
Num evento organizado pelo Congresso Europeu Judaico, que teve lugar na véspera do Dia Internacional do Holocausto, na sede da União Europeia em Bruxelas, o Presidente do Parlamento Europeu, Martin Schultz, afirmou que “os alemães de hoje não são os culpados do holocausto, mas são responsáveis por manter viva a sua memória”. Por sua vez, o Presidente do Congresso Europeu Judaico, Moshe Kantor, exortou a Europa “a reconhecer o Mal e a prevenir a sua ressurreição”.
Turquia lembra o Holocausto
Por ocasião do Dia Internacional do Holocausto, o Ministro turco dos Negócios Estrangeiros, afirmou que “devemos lembrar e honrar os mais de 6 milhões de judeus e membros das minorias que perderam as suas vidas nesta tragédia humana. Este dia, deve guiar-nos para uma cultura da compreensão mútua, tolerância e co-existência e, neste contexto, é importante aprender a lição e combater o racismo, a xenofobia e o anti-semitismo”. Durante a visita à sinagoga de Neve Shalom, em Istambul, o embaixador Tezgör pediu a monitorização séria da islamofobia e da xenofobia que são - “ameaças crescentes na Europa”. Terminou dizendo que partilha “a dor deste povo escolhido como alvo pela sua identidade.”.
A televisão estatal turca TRT transmitiu o filme “Shoa” de Claude Lanzmann no âmbito da campanha que visa promover o entendimento entre Judeus e Muçulmanos no país. O realizador francês afirmou ser “um acontecimento histórico” por ser a primeira vez que uma televisão estatal de um país muçulmano mostra este filme.
A Alemanha e os seus “ingénuos”
Recentemente, a revista alemã Stern revelou os resultados de uma sondagem, feita a mil e duzentas pessoas, que revelou que, um em cada cinco jovens alemães não sabe que Auschwitz foi um campo de morte nazi e um terço destes desconhece que Auschwitz é hoje na Polónia.
Estes resultados são preocupantes, sobretudo, sabendo que nas escolas alemãs o Holocausto e a sua literatura integram o programa escolar a partir do 7º ano.
No passado mês de Novembro, a nação alemã reagiu atónita às notícias sobre os terroristas neonazis e a infiltração pouco transparente das suas células pelos defensores da Constituição do País que, apesar dos malabarismo de corda bomba na fronteira da (i)licitude, não conseguiram evitar o assassínio de cidadãos alemães de origem turca.
Os judeus na Alemanha
O jornal israelita Haaretz surpreendeu recentemente com o título “Bem-vindo à comunidade judaica que está a crescer mais no mundo: Alemanha”. Segundo Seligmann, o editor do “Jewish Voice from Germany”, 100 000 Judeus estariam registados na comunidade, embora, na realidade, esse número possa já ir no dobro. Segundo o editor daquele jornal, se contarmos todos os judeus que vivem, actualmente, na Alemanha, estaríamos perto dos 250 000 (incluindo judeus alemães, russos, israelitas e americanos) – ou seja, metade do número de judeus que viveram neste país antes da Shoa.
Mas quem é Seligmann?
É um judeu israelita que veio para a Alemanha com os pais em 1957. Para ele foi um trauma deixar Israel; mas para os seus pais foi voltar à pátria de que tinham fugido vinte anos antes. Jornalista com artigos publicados no Spiegel, Bild, Die Welt e FAZ, e autor de seis romances, Seligmann foi o primeiro autor judeu a publicar um romance após a Segunda Guerra Mundial. Ele é também o editor da recentemente criada publicação judeo-alemã “The Jewish Voice from Germany”, cuja primeira edição, com uma tiragem de trinta mil exemplares, foi lida por 150 000 leitores na Alemanha, USA, Canadá, Reino Unido e Israel.
No editorial da primeira edição, Seligmann diz que o seu sonho “é o renascimento da vida judeo-alemã na Alemanha. Albert Einstein, Thomas Mann, Theodor Mommsen e Max Liebermann simbolizaram um florescimento único das artes, da cultura e da economia na Alemanha do seu tempo.”
Apetência pela capital
Em Berlim-Mitte ouve-se muito o hebraico falado por turistas israelitas de visita e pelos seus filhos que vieram passar uns anos nos bairros “in” da capital – Berlim está na moda entre os jovens israelitas. Assiste-se à retoma da vida judaica na capital: as sinagogas e as “yeshivas” são restauradas às suas antigas funções, maestros judeus dirigem orquestras de nomeada internacional na capital, os intelectuais judeus retomam visibilidade, abriu um restaurante israelita na fronteira com Prenzlauerberg e há mesmo uma discoteca israelita cheia de jovens “sabras”. Num artigo do referido jornal conta-se a história de milhares de israelitas em Berlim e numa foto vê-se quatro israelitas embrulhados em bandeiras alemãs e israelitas com o título “aprender a conhecermo-nos”!
Segundo declarações recentes do Ministro do Interior alemão, apesar do decréscimo do número de neonazis, regista-se o alastramento das actividades da extrema-direita e o aumento do seu potencial de violência, de que a comunidade judaica também é alvo. Porém, esta comunidade fervilha novamente de criatividade e de optimismo e contribui significativamente não só para a vida cultural da nação como para os cofres da “sexy e pobre” cidade através do turismo oriundo de Israel e da Diáspora.
Mas não esqueçamos nunca as circunstâncias históricas e factuais que levaram à tipificação do crime de genocídio após a Segunda Guerra Mundial, e lembremos, não só hoje, mas durante todo o ano, as vítimas e o desvario de um líder e dos seus correligionários que quiseram assassinar uma nação inteira por ser diferente. Na sociedade alemã existem muitos cidadãos diferentes: os muçulmanos, os judeus, os africanos, os asiáticos, inter alia. Infelizmente, nem todos os alemães foram ganhos para a causa do multiculturalismo. Para evitar uma repetição da História, e não só como farsa, há que reunir todos os grupos sociais e religiosos, a sociedade civil e o governo para combaterem, juntos, o fenómeno do “neonazismo” que ameaça o país e que, recentemente, tanto chocou a nação.
O Dia Internacional do Holocausto é um dia de reflexão e de aprendizagem com os erros do passado. E deveria ser um incentivo para lutarmos por um futuro mais harmonioso, pelo entendimento entre os povos e as suas culturas, e pela tolerância no mundo.
Cristina Dangerfield-Vogt
Berlim, Janeiro 2012 – publicado no jornal Portugal Post online
. A VIDA NUMA MALA - Cristi...
. A VIDA NUMA MALA de Crist...
. Dia do Holocausto em Isra...
. Nação Judaica e os "Justo...
. The General's Son by Miko...
. Sayed Kashua leaving Isra...
. Jaffa - a Palestinian ord...
. Would Sephardic Jews righ...
. Dia Internacional do Holo...
. Um Ano em Telavive - curr...
. Botas de Sete Léguas